Você irá acreditar que um homem pode voar
Superman – O Filme permanece como um marco do gênero e do cinema, mas não foi fácil fazer essa produção decolar

 O ano é 1978. É dezembro. É natal. O personagem de destaque daquela época usa vermelho e voa. Poderia ser o já conhecido Papai Noel, todavia o vermelho, nesse caso, é da capa que ele usa. Com isso ganha multidões que lotam os cinemas e bate recordes de bilheteria. Seu nome: Superman. Todavia, além de ter sido um blockbuster, Superman – O Filme curiosamente resistiu ao tempo. E, naturalmente, esse filme, para ser feito, só foi possível graças a também heroica força de seus produtores.

Preparando o roteiro e escolhendo o elenco

Tudo começa em 1974, quando alguns produtores europeus de cinema, Alexander, Ilya Salkind e Pierre Spengler, decidem que é uma boa ideia levarem às telas um herói há muito tempo conhecido nos gibis: Superman. Eles conseguem os direitos de produção junto à DC Comics e a Warner Bros, donas da marca, e partem para o trabalho.

Levar um super-herói às telonas naquela época, os anos 70, era algo incomum. Talvez, até aquele momento, a experiência de maior sucesso de um herói em uma plataforma audiovisual tenha sido a cômica e colorida série do Batman, nos anos 60.

Por isso, desde o anúncio do filme foi preciso demonstrar que uma produção sobre o Homem do Amanhã não seria uma mera comédia pastelão cheia de piadas e frases de efeito. Dessa forma, contratou-se Mario Puzzo, conhecido autor de O Poderoso Chefão,para fazer parte do time que acabaria por desenvolver o roteiro do filme. E para o elenco foram chamados atores como Gene Hackman (Lex Luthor) e, pela “bagatela” de U$$3,7 milhões, dez minutos de tela, o icônico Marlon Brando, que viveria Jor-El, pai de Superman.   

Para a direção, foi chamado Guy Hamilton, que havia dirigido algumas produções do 007. Todavia Hamilton não durou muito tempo. Em um domingo, enquanto estava no banheiro, Richard Donner recebeu uma ligação de um dos produtores e acabou descobrindo que dirigiria um filme sobre um dos maiores ícones da cultura pop norte-americana.

Quanto a Donner, parênteses podem ser feitos. Desde o início havia sido decidido filmar Superman — O Filme e sua continuação, Superman II, de forma simultânea. Todavia brigas entre os produtores e o diretor fizeram com que ele acabasse, de fato, somente filmando e lançando o primeiro e conseguindo filmar 75% do segundo antes de ser chutado da produção. 

De todo modo, quando Donner chegou à direção, a primeira coisa que fez foi pedir que o roteiro fosse reescrito por Tom Mankiewicz. Era preciso seriedade para o filme, ou como acabaria insistindo o diretor, verossimilhança. Ele desejava crer no mito que estava dirigindo e que seria projetado nas telas dos cinemas. Tamanha foi a insistência de Dick Donner no tocante à verossimilhança, que até hoje em seu escritório há um cartaz com tal palavra.

Algumas outras peças importantes foram juntadas ao quebra-cabeça de tal produção, entre designers, figurinistas e outros membros importantes. Cabe destacar a presença de Geoffrey Unsworth, responsável pela bela fotografia do filme. Além das presenças de Gleen Ford, como pai de Clark e de uma aparição especial, ainda quando o filme se passa em Smaville, do ator Kirk Alyn, que foi o primeiro a vestir o traje de Superman nos cinemas nos anos 40.

Definido um roteiro, um elenco, uma equipe e um diretor, restava ainda saber quem interpretaria o Homem de Aço e sua eterna paixão, Lois Lane. Alexander Salkind insistia em uma estrela para o herói. Diversos nomes como o do premiado Paul Newman foram cogitados. A busca por tal ator foi tão frenética que até o dentista da esposa de Alexander Salkind, o qual ela considerou a cara do Superman, fez o teste para interpretar o herói. Todavia, Donner desejava um desconhecido capaz de uma dupla interpretação, a do herói e a do jornalista Clark Kent. No final, foi o estreante Chritopher Reeves quem conquistou o diretor. Tendo o herói, encontraram na desajeitada e encantadora Margot Kidder a atriz ideal para interpretar a ambiciosa jornalista e par romântico de Superman, Lois Lane.  

A história que encantou gerações

Superman – O Filme é dividido em três atos. No primeiro podemos observar, tal como em um filme de ficção científica, o planeta de origem do herói: Krypton. Uma sociedade em seu auge, mas ao mesmo tempo próxima de seu crepúsculo. No segundo momento o expectador contempla brevemente a bucólica infância e juventude de Clark em Smalville. E o terceiro momento ocorre em Metrópolis, onde o herói surge primeiramente como o desajeitado repórter Clark Kent antes de voar pelas ruas da cidade combatendo o crime e salvando gatinhos presos no topo de árvores.

Algumas questões podem ser evidenciadas sobre a história passada no filme e o modelo no qual é retratado o herói. Uma delas é a longa preparação do Homem de Aço, pois há a clara preocupação em demonstrar a origem dele antes de vestir seu manto de herói. A divisão do filme em três atos corresponde à Jornada do Herói, o chamado a aventura, os desafios e as transformações que Clark passa de modo a se tornar o Homem de Aço. Leva-se um longo tempo, no filme, para vê-lo com sua capa vermelha. E no primeiro momento em que é visto, ele voa pela Fortaleza da Solidão.

O que é outro ponto importante, a ênfase no voo do Superman. Como pode ser lido em um pôster da época: You’ll believe a man can fly. Apesar das dificuldades técnicas e das limitações tecnológicas de um período anterior a utilização de computação, é crível o voo do herói — tanto que a obra recebeu o Oscar de melhores efeitos especiais. Não é por acaso que uma das mais importantes cenas é aquela na qual ele, ao lado de Lois Lane, voa longamente pelos céus de Metrópoles e o último momento em que vemos o herói é aquele no qual ele está voando no espaço, acima da terra, como que observando o mundo o qual protege.

Todavia, Superman jamais decolaria sem o ator correto, e não teria como não se dar o devido destaque àquele que tão bem interpretou o Homem do Amanhã: Christopher Reeves. A qualidade de sua atuação pode ser facilmente analisada em uma cena simples, aquela logo depois do voo com Lois Lane. Reeves, ou melhor, o repórter Clark Kent chega ao apartamento dela e em um momento, quando deixado sozinho, como que pensando em revelar sua identidade à jornalista, deixa de lado o desajeitado Clark, tira os óculos, muda sua postura, e pode-se ver ali Superman. Demonstrando que sim, tal herói pode se esconder do mundo com apenas um par de óculos.

Todavia, de todos os elementos presentes na obra, o que trouxe mais magia ao filme foi a trilha sonora. Ela é inconfundível e empolgante, composta por John Willians. Tal trilha ajudou a dar vida a produção em momentos fundamentais, como na abertura, quando surge a palavra Superman na tela, ou quando o herói se revela para o mundo ao salvar Lois Lane de uma queda em um edifício. Richard Donner contou que na primeira vez que escutou a música tema, acabou estragando a tomada em que Willians a gravava com uma orquestra. O diretor do filme se sentiu tão impressionado que gritou gênio, fantástico para o maestro e compositor no meio da seção.

O legado de um herói

Talvez se Superman — O Filme fosse lançado hoje seria somente mais um filme entre os tantos do gênero. Basta observar a quantidade de obras cinematográficas do tipo que hoje existem e pipocam em cinemas, televisões e plataformas de streaming. Todas buscando contar a origem de algum herói, suas transformações e buscando ter um ator marcante como a encarnação de tal paladino. Todavia, por ter sido feito em uma época atípica a isso, conquistou seu lugar. E mantém como legado o fato de ter feito milhões de expectadores acreditarem que um homem realmente poderia voar.

Superman – O Filme (1978)
Direção: Richard Donner
Roteiro: Mario Puzo, David Newman, Leslie Newman, Robert Benton
Elenco: Christopher Reeve, Marlon Brando, Gene Hackman, Ned Beatty, Jackie Cooper, Glenn Ford, Trevor Howard, Margot Kidder, Valerie Perrine, Maria Schell, Terence Stamp, Phyllis Thaxter, Susannah York
Duração: 143 minutos.

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