Em entrevista ao blog Razão Cult, o escritor Johan Henryque fala sobre os desafios da publicação de livros no Brasil
Neste mês, o Razão Cult tem o prazer de entrevistar Johan Henryque, escritor que, em 2024, chegou ao marco de dez livros publicados, explorando gêneros tão diversos como poesia, romance e literatura infantil. Além disso, Johan é o fundador da Prosacult, uma editora independente que vem se consolidando no cenário literário do Alto Vale do Itajaí.
Nesta conversa, ele compartilha os desafios e as alegrias de manter uma produção literária constante, revela sua relação com a escrita e a leitura, e reflete sobre o mercado editorial brasileiro. Johan também fala sobre seu envolvimento em feiras literárias, projetos de incentivo à leitura e sua visão do papel social dos escritores.
Quer dizer que você chegou este ano ao décimo livro publicado? E observando suas publicações, elas foram publicadas ano após ano. Qual seu segredo para manter a regularidade da escrita? Disciplina? Ou inspiração?
Desde o começo tive esse desejo de publicar todos os anos, mas em alguns momentos me vi numa dúvida constante sobre como abordar coisas novas, não queria me tornar um escritor de “gênero só” e fui explorando muitos estilos e locais de fala como autor ao longo destes anos. É divertido, desafiar-se e encontrar soluções onde talvez nem houvesse pensado num primeiro momento.
E quando você não consegue escrever, está travado na escrita ou sem ideias para terminar um capítulo, o que você faz?
Deixo para lá, não insisto, pois sei que não sairá algo frutífero. Quando escrevi meus romances, gostava de trabalhar com intensidade e acelerar os processos para viver a história ao máximo e absorvê-la. No entanto, sempre parava para reler e ajustar alguns pontos. Hoje, muita coisa talvez fizesse diferente, e isso é muito importante para um autor: encontrar sua própria maturação e evolução ao longo dos anos. Já na poesia, é diferente. Esse é um gênero que, talvez, tenha nascido comigo sem que eu nem percebesse. Flui de forma especial e é o gênero no qual meu repertório se expande de maneira bem evidente.
De onde surgiu o interesse em se tornar escritor?
Júlio Verne! Lembro-me de alguns pós-almoços em que meu pai me “obrigava” a ler livros de aventura. Para cada livro lido naqueles meses, eu ganhava uma mesada “x”, e, por muito tempo, achava aquilo um tédio. Depois, bem, tudo foi mudando. Esse despertar para a leitura me inspirou a querer construir e contar minhas próprias histórias.
Além de escritor, você também tem sua própria editora, a Prosacult. O que fez você se lançar na aventura de montar uma editora independente?
Durante o processo de publicação dos meus primeiros livros, fui aprendendo muitas etapas envolvidas na elaboração de uma obra. Os quatro primeiros livros lancei com uma pequena editora do Rio de Janeiro, mas foi um processo trabalhoso, com pouca transparência em alguns momentos e dúvidas que permaneciam latentes. O quinto livro foi um desafio interessante: apresentei um projeto para a universidade local de Rio do Sul, e, ao ser aprovado, nasceu uma parceria interessante que possibilitou o lançamento da obra. Em 2022, surgiu em mim o desejo de experimentar a publicação independente, algo que parecia uma provação necessária. Em 2023, tudo foi se encaixando, e assim nasceu a Prosacult.
E como você enxerga o atual mercado editorial brasileiro?
O mercado editorial brasileiro é desafiador. Temos editoras gigantescas, outras que estão crescendo e algumas que acabam declarando falência. Apesar disso, sinto que estou dando os passos certos, fundamentando bem uma base e crescendo aos poucos. Tenho bons amigos que abraçam muitos dos projetos realizados até agora e que enxergam com bons olhos as ideias para o futuro. A meta, no momento, é tornar a Prosacult uma referência no Alto Vale do Itajaí.
Ao longo do seu percurso como escritor, é notável seu envolvimento em feiras literárias, seja como autor, expositor ou até mesmo organizador. Qual a importância dessas feiras para a literatura e para a cultura do livro?
As feiras literárias são um dos principais meios de encontrar leitores. Em um mundo cada vez mais virtual, esses encontros reais entre escritor e leitor são fundamentais para criar um vínculo entre ambos. As feiras são a essência do livro, sua celebração. Elas reúnem palestras, lançamentos, saraus, bate-papos e tantas outras atividades que fazem a literatura e a cultura florescerem como um todo.
Além das feiras que você participa, você desenvolve projetos que envolvem palestras de incentivo à leitura em escolas e até oficinas de escrita com o objetivo de formar novos escritores. Há algum outro projeto que gostaria de destacar?
Em 2018, ingressei na Associação de Escritores. Durante alguns anos, participei de projetos de incentivo à leitura e à escrita promovidos pela instituição. Em 2019, junto com Adriano e Cintia, outros produtores culturais aqui do Alto Vale do Itajaí, criamos o Concurso Literário Manoel Karam, que se tornou uma referência no incentivo à escrita para alunos de escolas públicas e privadas de Rio do Sul. Em 2022, organizei a primeira Feira do Livro de Lontras, um evento que recebeu cerca de 2 mil pessoas ao longo de sua realização. Já em 2023, assumi a presidência da Associação de Escritores e, desde então, fomentamos novos projetos. Entre eles, destaco a criação do Clube do Livro da Associação, que atualmente está sob os cuidados de Marco e Tiago.
Algumas vezes, não é desestimulador todo esse trabalho diante de dados que mostram que o brasileiro lê, em média, apenas quatro a cinco livros por ano?
É realmente um ponto que nos faz pensar. Infelizmente, as telas e tecnologias ganharam — e continuam ganhando — força a cada dia. No entanto, acredito que existam formas de incentivar a leitura, e são essas ações que podem contribuir para mudar esse cenário. Afinal, de braços cruzados, não faremos diferença alguma. Quanto mais ações que fomentem a leitura e a escrita forem realizadas, melhor poderá ser o futuro.
Considerando toda essa sua atividade cultural, você acredita que escritores e escritoras têm um papel definido ou uma capacidade de intervenção na sociedade?
Sim, formamos pensamentos e influenciamos pessoas. Isso é algo muito positivo, pois a sociedade precisa de indivíduos que a revolucionem em todas as áreas possíveis.
Você já publicou livros de poesia, romances e, mais recentemente, seu primeiro livro infantil. Qual é o seu gênero favorito de escrita?
A poesia sempre fluiu de forma mais natural para mim, mas gosto de me aventurar por outros gêneros. Todo autor deveria fazer isso um dia: sair de sua zona de conforto.
E quais são seus projetos para 2025? Já está redigindo algum livro?
Estou organizando algumas ideias, revisitando projetos antigos que acabaram engavetados e explorando novas inspirações. Também estou lendo alguns livros para me inspirar. É uma fase de pesquisas e estudos.
Jogo rápido: três escritores de cabeceira.
Marcelo Labes, Nina George, Tolkien.
Três livros de cabeceira.
O Senhor dos Anéis, de Tolkien. A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Verne. Enclave, de Labes.
Para terminar: um conselho para alguém que deseja escrever e publicar livros.
Gosto da forma descontraída com que Marcelo Labes se expressa, e quero incorporar algo nesse estilo aqui: comece, rabisque, escreva versos, anote, leia… Mude de ideia, mude de novo. Não estamos sempre certos, nem sempre errados. Escrever é expressar o que pensamos, sentimos e criamos. Seja você mesmo. Esqueça tendências, listas de mais vendidos do ano e concentre-se em criar sua própria identidade.
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