Sebos, livrarias, livros e conhecimento

Quem aí não gosta de garimpar bons livros e se surpreender com o que eles têm a oferecer a nós, leitores?

Já faz anos, nem me lembro mais desde quando, que sou um frequentador assíduo de sebos — esses locais, para quem não sabe, onde se vendem em geral livros usados, além de quinquilharias como velhos LP’s e outras coisas. Gosto desses ambientes por me sentir livre para vasculhar de maneira despretensiosa aquilo que me interessa e eventualmente fazer algum achado singular.

Mesmo hoje em dia, na era das compras pela internet, algo que se populariza cada vez mais, ainda sim gosto de ir aos sebos. Costumo, sim, comprar livros pela internet, afinal com promoções tentadoras não há como não deixar de se aproveitá-las. Porém, sendo sincero, vasculhar um site, por melhor que sejam os preços de seus produtos, ofertas e descontos, não se compara a sensação de esmiuçar fisicamente prateleiras de livros, seja de uma boa livraria ou mesmo sebo.

Tempos atrás então, quando resolvi tirar um dia para ir a alguns sebos e livrarias, convidei um amigo meu para ir comigo. O convidei por sermos apreciadores de bons livros e por termos afinidade com algo em comum: filosofia. Naturalmente, em nossas andanças, quando já adentramos o primeiro sebo a que fomos naquele dia, a primeira seção para a qual nos dirigimos foi a de filosofia. Empolgados, ele ainda mais do que eu, observamos os livros ali dispostos.

Encontramos, entre as obras lá colocadas, Kant, Hegel, o Dicionário Filosófico de Voltaire e manuais de filosofia dos mais variados. Enquanto meu amigo se mantinha entretido com aquele material, dei uma olhada no local. Havia uma infinidade de obras das mais variadas. Livros sobre cinema, culinária, literatura brasileira, estrangeira, guias médicos e outros sobre temas que nem imaginava que existissem. Obras suficientes para despender algumas boas horas olhando e selecionando.

Enquanto fazia isso, olhava os livros aleatoriamente sem o mínimo de foco ou critério na busca por algo, meu amigo chegou para mim com um achado entre as mãos: Crítica da Razão Pura de Kant. Uma boa escolha. Se demonstrava animado com a compra. Mas o mais interessante foi o que me disse a partir daí. Que se sentia fascinado por adquirir um livro tão fundamental para a filosofia, senão mesmo a cultura ocidental, de forma tão barata. Caso não esteja enganado, uns dez reais. E que séculos atrás encontrar, como encontrou ele, um exemplar desse livro assim, de forma relativamente fácil e a um preço acessível, provavelmente não seria tão simples.

Acabei refletindo com isso e até mesmo me transportei, por alguns instantes, para séculos anteriores. Lembrei-me de Sean Conery, o eterno James Bond, na pele de um monge franciscano no filme O Nome da Rosa. Lembrei-me disso pelo fato de que aqueles monges copistas que ali eram mostrados despenderem suas vidas na cópia de um exemplar da Bíblia, ou algum clássico latino ou grego. Pensei inclusive o quanto não foi fácil, durante muito tempo, encontrar obras de grandes filósofos de forma traduzida para o idioma português — mesmo que em traduções de qualidade duvidosa.

Foi apenas um momento de breve reflexão em que me dei por satisfeito por viver na época em que vivo, no qual o acesso ao conhecimento se dá de maneira tão simples, e um clássico da literatura universal ou mesmo filosofia é encontrado em um sebo, livraria ou mesmo na internet.

No final das contas, aproveitando o ensejo, e o passeio por sebos e livrarias, naquele dia, revolvi seguir o exemplo de meu amigo, e como ele adquirir conhecimento em forma de livros.

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