Nada melhor do que questionar nossas certezas diárias através da filosofia de John Pollock e o enigma do cérebro em uma cuba
Costumo, como qualquer pessoa, me questionar sobre muitas coisas. E ultimamente ando me interrogando sobre o seguinte: o mundo existe? Pode parecer um tipo de pensamento aloprado, entretanto, não me surgiu por acaso, ou no mínimo do nada. Lendo um texto chamado Um cérebro em uma cuba, de John Pollock, foi que me veio à cabeça tal questão.
O autor, nesse caso um filósofo americano, discorre em seu texto, que mais parece uma boba história literária, sobre o caso de um rapaz chamado Mike. Tal rapaz, nessa história, acaba se encontrando em um dilema: tendo passado por uma suposta cirurgia estaria seu cérebro contido em uma cuba o qual conectado a um supercomputador criaria todas as impressões que Mike teria sobre a realidade — e, sendo assim, naturalmente, de que ele continuaria vivendo sua vida como se nada houvesse acontecido. Porém, ele saberia desse detalhe peculiar, da cirurgia, pelo fato de terem lhe contado. Mas por ainda se ver em seu próprio corpo, como poderia estar seu cérebro em uma cuba? Eis sua dúvida.
O fato é que ao me colocar de frente a tal historieta me deparei também com o curioso problema enfrentado por Mike: tal protagonista se vê diante de um dilema, ser ou não ser um cérebro em uma cuba controlado por um supercomputador. Tal pensamento o faz questionar tudo a sua volta, porém não tendo assim capacidade para afirmar que aquilo que o rodeia é ou não real. Afinal, tudo continua sendo familiar e autêntico para ele, porém, quem sabe não seria nada mais do que uma projeção criada por uma máquina para iludir sua mente.
Eis aí uma velha dúvida humana, ou que pelo menos deveria ser considerada uma dúvida: como distinguir aquilo que é sonho daquilo que é real? Afinal, em certos momentos a realidade vivida em vigília é tão fantástica quanto um sonho experimentado durante o sono. E um sonho algumas vezes experimentado durante o sono aproxima-se tanto do real que parece ser a própria realidade.
A questão que me fica, por mais que tome tudo citado aqui apenas como histórias, ainda sim, é a seguinte: como ter plena certeza se esse mundo, no qual me insiro e tomo todos os dias o ônibus para meu trabalho, também não passa de uma ficção?
Mas, não é realmente isso que desejo enfocar — prefiro deixar de lado tal problema epistemológico. O fato é que na mesma medida em que li esse texto e me senti estupefato, lembrei-me tanto do primeiro filme da trilogia Matrix — que segundo me disseram teve como uma das inspirações a narrativa mencionada acima — quanto da obra de George Orwell, 1984. Afinal, no primeiro, na superprodução cinematográfica, o jovem Neo, protagonista da franquia, apenas com muito custo, e ajuda, consegue distinguir a “realidade” daquela da matrix criada como forma de entreter os seres humanos viventes dentro dela. Da mesma forma como em 1984, no qual o protagonista, Winston Smith, vive em um mundo moldado por uma ideologia partidária poderosíssima capaz de ditar, independentemente inclusive de condições materiais precárias de seus cidadãos, a verdade acerca do que for e moldando assim a realidade.
A diferença entre os dois últimos exemplos e o primeiro, entretanto, centra-se na seguinte questão: em Matrix ou mesmo 1984 alguns poucos tem capacidade, ainda assim, de tomar consciência da situação em que estão inseridos, de sair da caverna platônica, indo em direção à luz, descortinando e descobrindo o que pode ser dito como real — diferentemente da história do rapaz com o cérebro em uma cuba.
A questão que me fica, por mais que tome tudo citado aqui apenas como histórias, ainda sim, é a seguinte: como ter plena certeza se esse mundo, no qual me insiro e tomo todos os dias o ônibus para meu trabalho, também não passa de uma ficção? Ou mesmo uma projeção holográfica? Que minha visão de mundo não permanece embaçada por uma sutil ditadura ideológica que condiciona meus valores e preferências? Ou que, como Mike, meu cérebro descansa em uma cuba na qual ligado a um computador cria toda a realidade a qual considero verdadeira e genuína? Como saber?
Bem, acredito que é por isso e por outros motivos que toda vez que entro em meu quarto, depois de um dia estafante, os livros de minha estante continuam me sussurrando aos ouvidos: nos leia ou volte para a caverna.
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