Conheça o Capitão Trovão e seu arqui-inimigo o Malévolo Zuninga, personagens de umas das mais divertidas obras de Maicon Tenfen
Experiente, ao longo dos anos Maicon Tenfen tem se mostrado um escritor versátil. No decorrer de sua trajetória, publicou desde longos romances, crônicas, contos e até mesmo teoria literária. Tudo isso somando, em duas décadas de carreira, duas dezenas de livros publicados. Além de alguns prêmios e do fato de que, em 2015, com seu livro Quissama — O Império dos Capoeira (publicado pela Editora Biruta) ter sido finalista do Prêmio Jabuti.
Sem dúvida, em uma carreira autoral já tão diversificada, não poderia deixar de se esperar, naturalmente, novas obras. E, até mesmo, em campos ainda não explorados pelo escritor. Nisso surge seu mais recente livro, um ficcional dentro da literatura infanto-juvenil, chamado: O Filho do Capitão Trovão.
A obra tem uma história peculiar. Capitão Trovão, herói conhecido por todos, defensor da cidade, admirado por muitos, temido por muitos outros, está prestes a se aposentar. Mas não sem declarar a possibilidade de um jovem sucessor. Afinal, sem ele, quem combateria o Malévolo Zuninga e tantos outros patifes? Marcos, um garoto como outro qualquer, fã de Capitão Trovão não deixa de se imaginar como seu herdeiro. E muito mais, não deixa de imaginar que o próprio pai seja o herói.
Ao construir uma história com tal premissa, Maicon Tenfen acaba por escrever uma obra com capacidade de cativar tanto crianças quanto adultos. E sob variadas perspectivas. Afinal de contas, em um mundo recheado, ficcionalmente, por tantos heróis, quem em algum momento de sua vida não flertou com tal ideia? De vir a ser um herói? Tal como Super-Homem com uma inteligente e encantadora Louis Lane voando pelos céus de Metrópolis? Ou Batman, com seus variados apetrechos, combatendo criminosos em prol da justiça?
É claro, a beleza de tal livro não reside somente nesse ponto, mas nas variadas perspectivas que podem ser adotadas na busca por se compreender a construção da história e seus possíveis desfechos. Se há a possibilidade de se enxergar a história como uma ode ao sentimento humano de encanto por seus heróis imaginários e a fascinação que eles despertam no íntimo de homens e mulheres, também pode ser vista de outras formas. Como a história de um garoto que, admirando o próprio pai, o imagina muito mais do que como um simples cidadão — que acorda cedo, trabalha, paga as contas — e sim, como alguém que supera a condição humana em direção à super-humanidade. Tornando-se, assim, herói do filho e inspirando este a tomar algum dia o lugar do pai. O pai se torna o filho, e o filho se torna o pai.
Ou talvez, lendo com atenção, perceba-se que essa história não passe apenas de um relato, mascarado pela fantasia infantil de um garoto, de um pai ausente em sua família devido a problemas com o alcoolismo.
É claro, essas são apenas perspectivas que qualquer um, enquanto leitor, passível de envolvimento com uma obra literária e reflexão sobre a mesma, quem sabe também admirador desses heróis ficcionais que povoam o imaginário popular, pode tomar para si. As únicas razoáveis? Em um livro carregado com os mais variados símbolos, possivelmente não.
Fora isso, O Filho do Capitão Trovão encanta. Afinal, tem uma narrativa fluida e belas ilustrações produzidas por Laurent Cardon. Texto e imagens se combinam de maneira alquímica, ou seja, verdadeiramente mágica, adicionando vida a cada página da obra. Lê-se uma página; quando se vê, leu-se o livro inteiro.
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